quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

MUSEU CÂMARA CASCUDO: CONSTRUÇÃO DE UMA IDENTIDADE POTIGUAR?



INTRODUÇÃO:

Dentro das discussões aborcadas no decorrer desta disciplina, referentes principalmente as diversas dimensões do saber patrimonial, da memória, do turístico e etc., procuraremos dar uma praticidade a tais conhecimentos que servirão de suporte para analisarmos criticamente uma instituição que tenta 'preservar e mostrar' traços da cultura e outros elementos do estado do Rio grande do Norte, o Museu Câmara Cascudo. Para isto, foi-se necessário a visita neste estabelecimento que possui em suas dependências diversos objetos materiais Arqueológicos, maquetes e instrumentos que buscam representar tanto a materialidade, mas também a imaterialidade, o simbolismo da cultura do povo Potiguar e também de regiões próximas ao RN. Conversamos com alguns visitantes e também com os funcionários do local para sabermos a opinião dos mesmos quanto ao museu, sempre buscando a ética e o respeito ao MCC.
Todos os “ambientes” onde os visitantes do museu circulam foram confeccionados tendo uma intencionalidade, a instituição museu cria narrativas intencionais através de suas exposições, acerca da disponibilização pensada dos objetos que ali estão. O MCC enquanto um museu de antropologia e de ciências naturais busca representar algo, de modo a trazer à tona diversos aspectos destas áreas.
Todavia, deve-se olhar tais representações de maneira crítica, de modo que percebamos se tais representações fogem aos esteriótipos, as generalizações grosseiras que desvirtuam as reais identidades culturais dentro deste estado, tendo em vista que possuem outros itens expostos de localidades fora do RN.
Assim sendo, deve-se analisar também o Museu Câmara Cascudo como um ponto onde turistas que nunca estiveram no estado (também os próprios Potiguares), podem encontrar um dado resumo do que é o Rio Grande do Norte. Esta análise crítica também trará pontos que pretendem pensar este estabelecimento não apenas como um local que possui fins meramente acadêmicos e de pesquisa; sabendo que a parcela magna de pessoas que visitam o MCC são geralmente caravanas de estudantes, vindas de todo o território estadual; também se faz de maneira a ser um ambiente de consumo turístico.

MCC : mistura que eu gosto!


Exposições fixas do MCC


Neste ano o Museu Câmara Cascudo chega a seu quinquagésimo aniversário de fundação. Novos responsáveis pela instituição pretendem criar uma comemoração especial para esta data que, atraindo a atenção da população Potiguar, buscam trazer à tona a importância deste local. Funcionários do MCC dizem que mudanças no espaço físico já foram marcadas para o fim de 2010, trazendo novas salas, como por exemplo a de multimídia e outras transformações no espaço que visam uma melhor preservação dos acervos e conforto aos seus visitantes. São cinquenta anos coletando materiais de estudo das ciências naturais e humanas, por isto o museu é referência no RN, quando se tratando de um local onde podemos encontrar diversos elementos que recompõe traços da cultura, pré-história e geologia do estado.
Um dos grandes problemas encontrados é muito simples, talvez até já tenha sido pensado por outros, mas que até o momento não foi especificado aos visitantes ou resolvido pelos responsáveis. O MCC/UFRN não é um local onde se encontram apenas acervos que representam o estado do Rio Grande do Norte. Mesmo com uma grande quantidade de objetos arqueológicos, utensílios ritualísticos e artístico do RN, estes são encontrados e misturados entre acervos que fazem parte de outras regiões e que são algumas vezes disparos e anacrônicos.
Podemos encontrar no museu algumas representações da cultura indígena norte-rio-grandense, tendo como principais tribos os Tapuias e Potiguaras (representantes extintos do passado deste estado), aleatoriamente, também podemos observar um cocar indígena da tribo Gorotiré, do sul do Pará. Sem fala nos outros pequenos objetos e numa Máscara africana, vinda do Museu do Dumbo, Angola. Não desmerecendo tais acervos, que, esteticamente falando, são realmente admiráveis como obra de arte para se expor em um museu, todavia, estes fazem ligação ao RN apenas e talvez como referência das origens culturais. Se o intuito do MCC/UFRN é quer ser um local que busca mostrar diversos objetos aleatórios, até mesmo aos moldes do séc. XIX, faz-se necessário deixar claro isto para os turistas que pretendem conhecê-lo, tendo em vista também a carga simbólica que seu próprio nome representa, de um difusor do folclore e cultura Potiguar.
Adentrando na diversas salas expositivas principalmente a do primeiro andar,que possuem um abordagem voltada as ciências humanas, excluindo, claro, uma coleção de ossos de animais mamíferos, estas tendem a estudar sobre o passado cultural norte-rio-grandense com a amostragem do sincretístico, da liturgia e outras características de menção artística e social. Até então, tudo bem, até chegarmos num local onde são “representados” os objetos ritualísticos da Umbanda, Candomblé que fazem parte das raízes africanas aqui no Brasil. Não é preciso ser “filho de santo” ou frequentador assíduo dos terreiros de Natal e do RN para ver que existe algo de errado. Acredito que esta exposição não deseja mostrar a riqueza cultural em tais manifestações religiosas, pelo contrário, tem um caráter um pouco preconceituoso, buscando tornar exótico, a dar estranhamento aos que observam, não aproximação.
Existe também um instrumento colonial referente as aos grandes engenhos de cana-de-açúcar nordestinos, um grande moedor de cana. Até então fico a indagar o por quê de mostrá-lo, visto que só existiram dois engenhos de pequeno porte no Rio Grande do Norte e que não tinham tanta força quanto a agricultura e pecuária, esta ultima jogada junto desta peça sem muita exposição ou coerência. O Rio Grande do Norte não foi palco dos grande levantes escravistas e de engenho do período colonial brasileiro, mas foi um suporte valiosíssimo aos outros estados suprindo com produções agrícolas e da pecuária, daí a importância do sertanejo Potiguar.
Buscando entender agora os aspectos turísticos que até podem parecer estar fora de uma discussão mais aprofundada, todavia é de fato uma tarefa que se faz complexa e demasiado trabalhosa, principalmente se quisermos ligá-la a compreensão do MCC como construtor de um determinado discurso sobre o RN. A importância é significativa, tendo em vista o grau de demanda turística provinda de todos os territórios nacionais e internacionais ao estado. O que podemos estar pecando ao analisarmos o Museu Câmara Cascudo como ponto turístico é que desde a sua formação, dia 22 de Novembro de 1950 (dia do Folclore), este tendem ainda a ser um instituto Antropológico e de ciências da natureza de outrora, ainda ligado a uma Universidade Federal do Rio Grande do Norte.


Tendo como um dos fundadores da instituição o folclorista e antropólogo Luiz da Câmara Cascudo, este local foi o primeiro órgão de pesquisas da UFRN, trabalhando como estudo das características Antropológicas em primazia. Então, seria interessante deixar claro que o papel desta instituição foi por muitos anos totalmente o oposto do que hoje se estabelece. A própria delimitação dos ambientes é bem parecido com as de salas de aula e de pesquisa. Seria, depois destas informações, esta instituição de fato um museu? Claro que sim!, mas acredito que o passado da mesma não permite que este se estabeleça e seu destaque como um ponto de referência no Nordeste e até mesmo no Brasil.
A partir de então, pensando como se fossemos administradores deste estabelecimento, poderíamos extrair algumas coisas que descaracterizam o MCC. Em primeiro momento o espaço físico que supracitado ainda é aos moldes de uma escola de estudos e pesquisas, sabendo que o MCC/UFRN ainda pode continuar com seus estudos e isto é primordial para um museu que trabalha com cultura e espaços geológicos que, com as ações humanas, se modificam constantemente.
Existe um espaço enorme em desuso, talvez o dobro do museu. A ampliação das salas, área de lazer, lojinha de conveniência, artesanato e alimentação são importantíssimos para dar um conforto aos turistas que pretendem conhecer o espaço.
Divulgação e outro ponto de suma importância. A desconstrução da imagem que o museu possui aos Potiguares é de fundamental importância, pois é desta imagem que o espaço se projeta como um ambiente que merece ser apontado como referência turística, que representa de maneira orgulhosa o norte-rio-grandense, o seu estado e sua cultura.
A universidade tem um papel grandioso para isto, utilizando os conhecimentos dos diversas áreas do saber, como a Arquitetura, Engenharia Civil, Administração, História, Turismo, Jornalismo, Publicidade e Propaganda e assim por diante. Nada melhor que ter uma instituição super consolidada levando o nome da universidade para todos os cantos do mundo inteiro.
A tarefa dos que estudam a memória, patrimônio e turismo do nosso estado está intrinsecamente ligada a militância, a luta por uma representação que alcance satisfatoriamente os diversos e complexos elementos da identidade Potiguar e que precisam ser preservados e difundidos de maneira correta.
REFERÊNCIAS:

RODRIGUES, Marly. preservar e consumir: o patrimônio histórico e o turismo. In: FUNARI, Pedro Paulo; PINSKY, Jaime (orgs.). Turismo e Patrimônio Cultural. 4 ed. São Paulo: Contexto, 2007.P. 15-26.
LARAIA, Roque. Cultura: um conceito antropológico. 22 ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
SITES:


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